
Versão em português de Luís Goucha [PASSAR PARA FORMATO PDF]
Se ainda houvesse dúvidas, relativamente ao carácter
ridículo das profecias moralizadoras sobre o nosso futuro, a crise que
atravessamos tê-las-á dissipado. É claro que toda a gente concorda que “haverá
sempre um antes e um depois”, mas ninguém sabe como será esse “depois”. As
análises multiplicam-se para realçar o carácter sem precedentes do momento que
atravessamos, para mostrar que isso põe em causa todos os nossos hábitos e
exige uma verdadeira revisão dos nossos sistemas de pensamento e de decisão.
Dizem-nos que a escolha foi feita pela protecção da saúde de todos, em vez do
crescimento económico para beneficio de apenas alguns. Dizem-nos que, amanhã, iremos
revalorizar as profissões ligadas às humanidades, necessárias à nossa
sobrevivência colectiva, em vez de continuar a exaltar o “primeiro a cortar a
meta” e a promover os “vencedores”. Explicam-nos que chegou o tempo da partilha
dos bens comuns, o que nos permitiria, finalmente, não “morrer arrastado pelas águas geladas do cálculo egoísta” de que
falava Marx… Gostava de acreditar nisso. Queria ter a certeza que nos
dirigimos, à escala planetária, para uma maior solidariedade entre pessoas e
nações, por mais justiça social, por uma maior valorização das grandes questões
ecológicas. Mas, na verdade, acredito que nada está decidido. ...
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