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António Nunes |
Contudo, os mais atentos sabem bem
que não é assim. E que esta espécie de simplicidade [pequena traição que a ignorância,
por vezes, nos prega], aliada à emergência da sua afetação a quase tudo aquilo
que respeita às aprendizagens, coloca este tema como objeto de uma mais
profunda reflexão e que deveria sujeitar todos aqueles que com ela trabalham, a
um estudo sistemático e consistente desta "nova" (?) realidade, no
trabalho pedagógico.
Pela sua estrutura, poderá parecer,
aos olhos de alguns, que as mesmas se detetam num saber fazer e em
operacionalizações mais ou menos rebuscadas. Nesta facilidade de análise, não
se interroga se esse tipo de ação incorpora valores como a consciência, a
justiça, a cultura, o humanismo, a solidariedade, etc. Este tipo de qualidades,
embora muito faladas, não representam uma grande preocupação ao nível do seu
desenvolvimento e desocultação, visto estas não interessarem muito aos “mercados”,
nem tão pouco serem preocupações e, por isso, objeto de avaliação dos sistemas
educativos, como o sistema educativo português.
O conceito de competência tem, ao
longo do tempo, transportado consigo as marcas do mundo laboral e, com isso,
construído uma semântica da qual com dificuldade se libertará. Isto porque,
tradicionalmente, tem sido enquadrado num tipo de ações que se orientam para um
desempenho qualificado num posto de trabalho. Competência era [ainda é, na
cabeça de alguns] uma qualidade pessoal que se tinha ou se adquiria, que se
mostrava ou se demonstrava, tendo por base uma “genética” marcadamente
operativa, que respondia, em momentos determinados, a tarefas de diferentes
exigências.
Esta dificuldade leva a que muitos [responsáveis
pela educação e formação incluídos] subestimem, por incultura ou má-fé, a sua
vertente de mutabilidade temporal e estrutural, bem como a sua harmonização com
outros conceitos. Parecem não entender que se exige à figura de competência uma
descolagem de um arquétipo tradicional de base simplista e se deve sugerir a
sua adesão ao mundo da complexidade, propondo-se-lhe, por via disto, uma nova
linguagem.
Torna-se então necessário um olhar
moderno sobre as competências, para que ao procurar integrá-las no currículo
escolar e formativo, estas possam ser aprendidas, mantidas e circunscritas por
toda a vida e não, como tem acontecido até hoje, revividas num espaço de tempo
curto, ao serviço exclusivo dos fetiches daqueles que não entendem muito, nem
de competências, nem da avaliação das mesmas.
Lembramos, por fim, que quando
fazemos alguma afirmação acerca de competências estamos, ao mesmo tempo, a
desenhar e a definir politicamente o currículo que elegemos e, assim, a determinar
o desenvolvimento e o futuro dos nossos pares.
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